Famíliar


AS NECESSIDADES DA FAMÍLIA

Objetivo deste folheto é conscientizar as famílias dos problemas frequentemente encontrados no convívio com o paciente esquizofrênico e é muito importante para o  bem estar do paciente e da família. A atitude mais adequada geralmente surge quando a família consegue lidar com dois dos principais problemas causados indiretamente pela esquizofrenia:  a culpa e a vergonha.

Não há motivo para culpa ou vergonha já que a esquizofrenia não é causada pela maneira como as pessoas são tratadas quando crianças ou adultas. É uma doença do cérebro sem relação com eventos interpessoais, embora muitas vezes, as pessoas, o próprio paciente e mesmo profissionais de saúde responsabilizem, direta ou indiretamente, a família.

Quando a família sente culpa ou vergonha, não consegue se organizar adequadamente.  Os relacionamentos ficam mais difíceis, e os problemas do dia-a-dia são menos tolerados. Os familiares acusam o paciente, uns aos outros e a si mesmos. A rotina familiar, a vida social e as finanças ficam desorganizadas.


Os problemas mais comuns que o paciente traz para sua família são:
  1. Falta de cuidados pessoais (por exemplo, não tomar banho).
  2. Inabilidade em lidar com dinheiro
  3. Retraimento social
  4. Hábitos pessoais estranhos (por exemplo, andar falando sozinho)
  5. Ameaças de suicídio
  6. Dificuldades no cumprimento de tarefas (por exemplo, no trabalho, escola e vida social)
  7. Temor pela segurança do paciente e de outros familiares
Uma vez abordadas as questões da culpa e da vergonha, a atitude mais adequada contém quatro elementos.


SENSO DE HUMOR

À primeira vista parece uma contradição, mas não é. Justamente por ser uma doença trágica, é preciso senso de humor para lidar com a esquizofrenia. Isso não significa que vamos rir da pessoa, mas sim tratar das dificuldades do paciente de uma forma mais leve e menos trágica. Observa-se que as famílias que têm maior sucesso em lidar com a esquizofrenia são aquelas que preservam o senso de humor. O senso de humor ajuda as famílias a lidarem com os altos e baixos inevitáveis dos pacientes.



ACEITAÇÃO


Esse é o segundo elemento importante da atitude correta. Aceitar não é desistir de tudo, mas reconhecer que a doença existe, que não desaparece, e que trará limitações às habilidades do paciente. É uma aceitação das coisas como ela são e não como gostaríamos que fossem.Esse processo é muito difícil e doloroso. Muitas famílias tendem a negar a doença, porém observa-se que quando há aceitação a situação é melhor.


EQUILÍBRIO FAMILIAR


Este é outro aspecto importante das atitudes corretas. As famílias que sacrificam tudo pelo paciente, geralmente o fazem por se sentirem culpadas, achando que de alguma forma causaram a doença. Cuidar de um paciente pode exigir 24 horas de trabalho por dia, que muitas vezes nem é reconhecido. A pessoa que cuida do paciente também precisa de atenção. Os outros filhos precisam ser considerados. Os pais podem precisar de um descanso de vez em quando. É muito importante avaliar com calma e racionalmente essas necessidades às vezes conflitantes, reconhecendo que nem sempre o paciente deve vir em primeiro lugar. Muitas vezes o próprio paciente sente que dá muito trabalho para a família.


EXPECTATIVAS REALISTAS

As expectativas que a família tem em relação ao paciente estão diretamente ligadas à aceitação da doença. Têm como referência a pessoa antes da instalação da doença. As famílias ficam ligadas ao mito da volta à normalidade e à esperança de que um dia o paciente retome suas atividades ( estudo, trabalho, casamento...).Esses sentimentos são tão fortes que não há nada que a pessoa com esquizofrenia possa fazer para agradar a família, a não ser voltar à normalidade, o que não está sob seu controle apesar de assim o desejar. 



FATORES DE RISCO PARA ESQUIZOFRENIA


São aquelas atitudes ou situações que aumentam o risco de o paciente ter uma recaída e que,  portanto DEVEM SER EVITADAS.


COMENTÁRIOS CRÍTICOS


São aqueles comentários que fazemos quando não gostamos de algo. Por exemplo, Marina demorava 30 minutos para lavar a louça, mas sua mãe achava que ela poderia fazer isso em 15 minutos. Todo o dia a mãe dizia: “Vai logo menina, está gastando água”.  “ Tá perdendo muito tempo aí”, “Se fosse eu já tinha acabado”. A esquizofrenia pode causar limitações na execução de tarefas. É importante aceitar essas limitações e permitir que o paciente execute certas tarefas.


EXCESSO DE DESENVOLVIMENTO


Estar muito ligado ao paciente o tempo todo significa um envolvimento muito intenso. Para evitar isso, é importante que os familiares, na medida do possível, continuem comas suas atividades. Por exemplo, Roberto costumava ficar ouvindo música em seu quarto. Toda vez que Pedro fumava um cigarro, alguém ia limpar o cinzeiro em seguida, como que conferindo seu comportamento.


AGLOMERAÇÃO


Um grande número de pessoas reunidas num mesmo espaço, como em festas, casamentos, jogos de futebol ou no centro da cidade causa estresse ao paciente. Sempre que puder, convide o paciente, mas se este não quiser ir, não insista.


PRESSÃO EXCESSIVA PARA DESENVOLVIMENTO


Pressão excessiva é exigir do paciente mais do que ele pode fazer. Renato estava no segundo colegial e trabalhava durante o dia como auxiliar de escritório. Dois anos depois de ter ficado doente, só conseguia comprar pão e leite na padaria e ver seus programas favoritos de televisão. O pai, no entanto, exigia que terminasse o colegial e fizesse faculdade, a despeito de suas dificuldades. É importante não exigir demais do paciente.


DISCUSSÕES E BRIGAS

Além de serem muito sensíveis a brigas e discussões, os pacientes esquizofrênicos com frequência se envolvem nessas situações, de forma inadequada. Evite esse tipo de situação na presença do paciente.



EXCESSO DE ESTÍMULO


O excesso de estímulos do ambiente costuma perturbar o paciente. Procure evitar luz excessiva, som ou televisão altos demais, barulho de eletrodomésticos e agitação.


DIRETRIZES FAMILIARES
Eis uma lista de dicas que todos podem seguir para tornar o dia-a-dia mais tranqüilo:
  1. Dê tempo ao tempo. A recuperação é lenta. Descansar é importante. As coisas melhoram com o tempo.
  2. Mantenha a calma. Entusiasmo é normal. Mantenha-o baixo. Diferenças de opinião também são normais. Não se exceda.
  3. Dê espaço. Dar um tempo é importante para todos. Tudo bem dar uma saída. Tudo bem dizer não.
  4. Coloque limites. Todos precisam saber quais são as regras. Algumas boas regras mantém as coisas claras.
  5. Ignore o que não se pode mudar. Deixe passar algumas coisas. De modo algum ignore a violência.
  6. Simplifique.  Diga o que você tem a dizer de forma clara, calma e firme.
  7. Siga as instruções do Médico. A medicação deve ser tomada de acordo com receita médica. Deve-se tomar somente o que foi receitado.
  8. Continuem suas atividades. Restabeleça a rotina familiar assim que puder. Mantenha contato com a família e amigos.
  9. Nada de tóxico ou álcool. Eles pioram os sintomas.
  10. Atenção aos sinais de recaída. Fique atento aos padrões de comportamento do paciente. Percebendo mudanças, de forma gradual. Faça uma coisa por vez.
  11. Resolva os problemas passo a passo. Faça uma coisa por vez.
  12. Diminua as expectativas temporariamente. Compare o progresso deste mês com o do mês passado, e não com o do ano passado, e não com o do ano passado ou do ano que vem.
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 COMO A FAMÍLIA PODE AJUDAR O ESQUIZOFRÊNICO
Dr. Mario Rodrigues Louzã Neto

PRINCIPAIS SINTOMAS:

  • Delírios
  • Desorganização do pensamento
  • Alucinações
  • Perda da capacidade de reagir afetivamente 
  • Retraimento social e diminuição da motivação
  • Tristeza, desesperançaIdéias de ruína e de suicídio
  • Dificuldade de memória e de concentração
  • Dificuldade de planejamento e abstração
Fique atento a suas atitudes. Se você tem preconceito em ralação à doença e à pessoa, como vai lidar com a situação? Como esperar que os outros reajam sem preconceitos? Livre-se deles! 

Participe do tratamento e colabore com o paciente. Converse com o médico, esclareça suas dúvidas e busque informações sobre a doença.

Trocar experiências com outras pessoas pode ajudar bastante. Procure participar de associações de portadores ou familiares.

Tente enfrentar as diversas situações com tranqüilidade. Mantendo a calma e a firmeza possível estabelecer um diálogo franco e produtivo.

Não critique ou ridicularize o paciente. Diante de suas atitudes esquisitas ou de sua  apatia, lembre-se que são sintomas da doença e não “frescura ou preguiça”. Críticas só tendem a estressar mais.

Evite ser superprotetor, pois o paciente vai perdendo a iniciativa, uma vez que você se antecipa e faz tudo por ele. Encontre equilíbrio.

Busque adaptar suas expectativas à realidade das condições físicas e emocionais do portador de esquizofrenia. A recuperação da doença é lenta. Expectativas elevadas geram frustrações e pioram a autoestima.

O esforço e a dedicação enormes para auxiliar o portador nem sempre são compensados em igual medida. Os sentimentos negativos (frustração, raiva, vergonha, entre outros) vêm à tona. É preciso estar preparado para lidar com os próprios sentimentos.

O portador de esquizofrenia se beneficia de um ambiente estruturado e organizado. Auxilie-o a criar rotinas para o dia-a-dia.

Reserve um tempo para cuidar de si, dedicar-se a suas atividades de lazer. Se você não se cuidar não terá disposição para cuidar do outro.